Escolas, Resíduos e Soluções (APIN, ABMG): Onde Começa a Reciclagem?

Na Reciclocentro, refletimos sobre a relação entre educação, civismo e a reciclagem de resíduos em Portugal, tendo como ponto de partida uma antiga escola primária O comportamento que observamos nos passeios, onde o lixo escondido pelas ervas surge após os cortes municipais, não nasce na rua: começa nas escolas, nas famílias e nos exemplos que damos diariamente. Com citações do Presidente da Câmara da Lousã, o texto analisa os desafios das entidades intermunicipais (APIN e ABMG)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

12/5/20254 min ler

🟦 As escolas como motores essenciais no papel da Reciclagem

A imagem parece mostrar uma antiga escola salazarista: paredes grossas, janelas altas, simplicidade austera.
Hoje é um Jardim de Infância, mas a verdade é que este edifício poderia ser classificado como património nacional, não só pela arquitetura mas pelo que simboliza: o ponto de partida da educação.

E o que tem uma escola antiga a ver com reciclagem, resíduos e civismo?
Muito mais do que se imagina.

Os comportamentos que vemos nos passeios quando as ervas são cortadas — garrafas, plásticos, latas, sacos, beatas escondidas como se as silvas fossem um tapete — não começam na rua.
Começam aqui: nas salas de aula, nas casas das famílias, nos exemplos que damos e nos valores que transmitimos.

🟦 As palavras do município da Lousã sobre a APIN, ABMG, ADVT e o problema dos resíduos

No jornal Trevim, edição n.º 1573 de 30 de outubro de 2025, pág. 9, o recém-eleito Presidente da Câmara da Lousã, Vítor Carvalho, afirma com clareza [1]:

“A APIN é um problema grave. (…) Com o aumento do custo dos resíduos tudo se agrava. Neste sentido, a população, eu incluindo, deve ser reeducada para a importância da separação do lixo.”

Afigura-se, salvo melhor opinião, que, tem toda a razão: as empresas inter-municipais, criadas pela Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro,[2], como a APIN, ABMG, AdCL, ADVT, deixaram de ter um propósito de serviço essencial, fundamental num estado de Direito e Social. Para um propósito de rentabilidade e dar resposta às despesas da reciclagem, das águas e de outros temas.

E do nosso ponto de vista, sem prejuízo de melhor entendimento, acerta quando reconhece que:

  • a APIN,

  • a ABMG,

  • e outras entidades intermunicipais similares, como a AdCL ou mesmo a ADVT.

são problemas sérios no modelo atual de gestão de resíduos.

Acerta também quando admite que o tratamento de resíduos indiferenciados — o lixo misturado, deixado nos passeios, bermas ou contentores cheios — está a sofrer aumentos de custo significativos.

Na Reciclocentro concordamos e acrescentamos:

👉 A falta de civismo tem um custo real
👉 A má separação encarece todo o sistema
👉 A incivilidade multiplica lixeiras clandestinas
👉 A mistura de resíduos destrói valor e aumenta contaminação
👉 E tudo isto começa na educação

Por isso a imagem da escola é tão simbólica.
O que hoje aparece nos passeios é a consequência direta do que não foi ensinado ontem.

🟦 Quando as ervas caem, a verdade levanta-se - lixo não reciclável

Quem passa por um passeio ou por uma estrada municipal coberta de vegetação pode pensar que está tudo “limpo”.
Mas basta o serviço municipal fazer o corte para surgir uma realidade escondida:

👉 garrafas; sacos; plástico partido em microfragmentos; latas; embalagens; beatas; toalhitas, etc

Nada disto aparece no dia do corte. Já lá estava.

A vegetação funciona como um tapete verde que não esconde só plantas — esconde comportamentos.

🟦 Portugal pode não ter falta de limpeza — mas também uma dose de falta de civismo

A limpeza municipal, por si só, não consegue competir com comportamentos que se repetem diariamente:

👉 lixo atirado de janelas de carro;
👉 sacos deixados ao lado dos contentores;
👉 monos abandonados em taludes;
👉 cabos queimados para vender cobre (e vemos isso na Reciclocentro);
👉 ecocentros vandalizados para roubos de metal;

E depois, quando a sujidade aparece, culpa-se:

  • o município; a APIN; a ABMG; “os serviços”; qualquer outro menos a mão que deixou o lixo ali

O problema não nasce com a tesoura e o esforço dedicado dos funcionários das empresas municipais.
Nasce com o gesto do cidadão.

🟦 A ciência explica: as crianças aprendem por imitação - Albert Bandura

Como demonstrou Albert Bandura, um dos psicólogos mais influentes do século XX, as crianças aprendem através de modelagem comportamental [3]:

👉 observam; imitam; repetem

Se veem um adulto deixar lixo no chão, acham normal.
Se veem alguém despejar sacos na mata, entendem que é “aceitável”.
Se crescem num ambiente onde o espaço público é tratado como um depósito, vão replicar isso no futuro.

As crianças são esponjas.
E os adultos são espelhos.

🟦 E os municípios? Também falham — mas isso não desculpa o cidadão

É verdade:
👉 os serviços municipais são rápidos quando há sucata a recolher
👉 mas lentos quando o pedido é lixo comum, têxteis ou monstros
👉 e muitos cidadãos ficam semanas à espera

Mas compreender a falha do sistema não transforma o abandono de lixo num ato aceitável.
O ambiente não tem culpa.
E entendemos, com as devidas reservas, que futuras gerações vão pagar caro por isso.

🟦 Conclusão — O presente começa na escola, para um melhor civismo na recilagem dos resíduos

A reciclagem e o civismo começam nas escolas.
Prosseguem dentro de casa.
E acabam no passeio, onde todos vemos o resultado.

Sem prejuízo de interpretação diversa, julgamos que, Portugal precisa de mais contentores, mais ecocentros ou mais campanhas. E sobretudo mais informação, quer no circuito urbano de resíduos ou circuito onde a Reciclocentro intervém.
Precisa de mais consciência.

Porque aquilo que vemos nos passeios após o corte das ervas não é lixo novo.
É uma fotografia antiga do que foi deixado para trás, debaixo do tapete.

E tudo começa numa escola como esta — uma escola que ainda pode ensinar-nos muito.

📌Fontes

[1] Trevim, edição n.º 1573, 30/out/2025, p. 9 – Declarações de Vítor Carvalho, Presidente da Câmara Municipal da Lousã
[2] Lei 54/2013, de 12 de Setembro - Diário da Républica
[3] Bandura, A. – Social Learning Theory, 1977 – teoria da modelagem comportamental